Roboteiro

O Paulo viveu todos os seus 20 anos a escassos 25 km de Ondjiva, província do Cunene. Filho de pastores com fraco rendimento, o seu sonho era ter o seu carro. Já não escolhia marca nem modelo, ele queria mesmo era um carro. Mas como? Se já nem no tempo das chuvas, quando as vacas estão bem alimentadas, ele conseguia amealhar para algo mais que umas bitolas no 15, quanto mais em pleno cacimbo. Mas não perdia a esperança.
Certo dia, ao chegar a casa com o gado após um dia de trabalho, viu o seu tio Dani. O tio Dani tinha ido para Luanda quando ele tinha 10 anos para tentar a sua sorte na Capital. Agora havia voltado porque o doutor lhe diagnosticou uma doença terminal e ele desejava morrer na terra onde nasceu.
Passado uma semana faleceu. A única família que tinha era aquela que se encontrava ali na aldeia e os seus pertences resumiam-se ao que trazia consigo e… um carro em Luanda. Pois esse carro, de matrícula LDP-98-45, havia sido deixado como herança precisamente ao Paulo.
Não se fez rogado. No mesmo dia fez as malas, pegou no testamento, pediu um dinheiro que havia emprestado a uns amigos e arranjou boleia com o tio do Mantonas que ia à Capital 3 vezes por mês.
Lá chegado a surpresa foi grande. O carro que o tio deixou não era… bem o que ele estava à espera. Há que ver as coisas pelo lado positivo: hoje o Paulo trabalha à custa do seu carro e já trouxe um primo para trabalhar na Capital.
roboteiro
Ok, exagerei um pouco, mas a história do miúdo que vem da província para herdar o “carro” que o tio lhe deixou é verdadeira. Incluindo a parte da matrícula.
Os roboteiros carregam mercadoria de e para os táxis e a palavra pensa-se que deriva do termo russo robota, que quer dizer trabalhar.

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